Dentro de uma sessão de Tarot, as pessoas me perguntam o que é consciência ou o que é psiqué.
A psiqué refere-se a tudo o que é formado pelos fenômenos que ocorrem na mente humana, como se fosse um computador: os órgãos são o hardware e o cérebro é o software. Cada pessoa possui um software único, que é resultado das experiências de vida e as percepções do mundo. Assim como as máquinas, a psiqué também possui um “banco de dados”, que é o inconsciente. Ele tem a função de armazenar todo o conteúdo.
O consciente é a forma como esses conteúdos se manifestam e se expressam. Segundo o psicólogo suíço Carl Gustav Jung, a personalidade é formada a partir de uma quaternidade, que representa o fundamento arquetípico da psiqué, com suas principais funções: a intuição, o sentimento, a sensação e o pensamento.
Vamos compreender como isso funciona?
As Funções da Psiqué Humana
“Precisamos de formas novas.
Formas novas são indispensáveis e, se
não existirem, então é melhor que não haja nada…”
Tchékhov
Jung conceitua a quaternidade como a representação numérica mínima da diferenciação e ao mesmo tempo integração das partes numa totalidade.
Inúmeros exemplos podem ser vistos ao longo de nossa história e cultura, como por exemplo, os quatro pontos cardeais que devem ser levados em conta para que possamos compreender a totalidade do horizonte, os quatro elementos que dão origem a toda a matéria, as quatro castas tradicionais no Hinduísmo, as quatro verdades no Budismo, as quatro fases da vida humana, etc. Da mesma forma, exemplos específicos podem ser encontrados na própria realidade física do Universo como o entendemos, como o fato de que o Planeta em que vivemos passa por quatro ciclos de temperatura a cada volta completa que faz em torno do Sol.
Não é difícil perceber a relação que existe entre os exemplos na realidade física percebida e os exemplos na cultura humana, já que se presume que o arquétipo se origina de vivências fundamentais, repetidas vezes através das gerações.
A teoria das quatro funções psicológicas fundamentais (intuição, sensação, pensamento, sentimento), formulada por Jung, teve como base a idéia da Quaternidade como esquema mínimo da totalidade.
O Pensamento e o Sentimento, chamados de Funções Racionais, são formas alternativas pelas quais o indivíduo elabora julgamentos e toma decisões.
O Pensamento corresponde à razão, com julgamentos baseados no “ser” da existência, ou seja, na conceituação.
O Sentimento adiciona o valor ao julgamento ponderado, então o indivíduo pode ponderar a respeito da importância que determinada coisa lhe desperta, e por qual motivo.
A Sensação e a Intuição, chamadas de Funções Irracionais e juntas, encerram os meios pelos quais o indivíduo apreende informações, ao contrário das funções Pensamento-Sentimento, pelas quais se toma decisões.
A Sensação consiste na experiência direta dos cinco sentidos, na percepção de detalhes, de fatos concretos.
A Intuição, por sua vez, é a função que processa informações em termos de experiência passada, objetivos futuros e processos inconscientes.
O indivíduo que tem como função superior a Intuição dá significado às suas percepções com tamanha rapidez que geralmente não é capaz de separar suas interpretações dos dados sensoriais brutos. A informação é processada muito rapidamente e relacionada, de forma automática, a experiências passadas e informações relevantes à experiência imediata.
A grosso modo, podemos resumir desta forma: quando algo é percebido pela consciência, a primeira função ativada é a Sensação, que anuncia que alguma coisa existe.
Em seguida, o Pensamento entra em cena e decide o que é essa coisa. Depois, o Sentimento mostra ao indivíduo o quanto essa coisa lhe é relevante ou importante. Finalmente, a Intuição é acionada para que o indivíduo conclua a respeito da origem desta coisa, bem como de seu destino. Um indivíduo que tenha as quatro funções totalmente desenvolvidas é capaz de fazer um julgamento devidamente ponderado.
Entretanto, a grande maioria dos seres humanos não é capaz de desenvolver as quatro funções igualmente, e mesmo os que o conseguem, geralmente demoram muitos anos de sua vida para fazê-lo, vindo a atingir esse estágio em idade já muito avançada. No indivíduo comum, uma determinada função é mais desenvolvida, de acordo com sua história pessoal, e é chamada de Função Superior, ou Função Consciente.
Ao mesmo tempo em que a função oposta correspondente permanece envolta pelo Inconsciente, ou seja, praticamente indiferenciada, e por esse motivo é chamada de Função Inferior, ou Função Inconsciente. As outras duas funções correspondentes entre si são ordinariamente desenvolvidas, e são então chamadas de Funções Auxiliares. Ou seja, um indivíduo que tem como função superior a Intuição, automaticamente terá como função inferior a Sensação, e vice-versa. Assim como um indivíduo que tem como função superior o Pensamento terá como função inferior o Sentimento, e vice-versa.
Isto se dá pelo fato de que a consciência em desenvolvimento busca uma emancipação em relação ao Inconsciente, para que possa entrar em contato com a razão e lidar com o ambiente externo que lhe faz exigências desde os seus primeiros momentos. Esse processo acaba fazendo com que o indivíduo, sem perceber, abandone a função inferior da psique, que passa então a permanecer envolta pelo Inconsciente, em estado de regressão, sem fazer nenhum contato razoável com o Ego.
Apesar da elevação da consciência e do aumento da racionalidade do indivíduo, a ausência da função inferior rejeitada causa uma falta na orientação consciente, um distúrbio no equilíbrio quaternário. O que causa esse distúrbio, em particular, é o fato de que a função negada pela consciência não pode ser destruída, pois ela faz parte da composição fundamental da psique.
Pelo fato de não mais se relacionar com a consciência, a função torna-se autônoma, e muitas vezes também obsessiva, ou seja, passa a funcionar por si só, segue seu próprio caminho e freqüentemente surpreende o Ego, pois não age de acordo com os preceitos do mesmo.
Jung chama a função inferior de Quarto Elemento, e relaciona esta situação com a cena dos Cabiros no poema Fausto, de Goethe.
“Assim é que pessoas de admirável amplitude de consciência sabem menos a respeito de si próprias do que uma criança; tudo isto porque ‘o quarto não quis vir’: ficou em cima ou embaixo, no reino do Inconsciente” (C.W. vol. XI).
Podemos citar também o exemplo do quatérnio espaço-tempo, que é dotado de grande importância para a compreensão da realidade física. Sabemos que o espaço é tridimensional, sendo as três dimensões altura, largura e profundidade. O tempo, portanto, seria tido como a quarta dimensão, o que confirma a existência e a natureza do espaço. De forma inversa, ao considerar os três aspectos fundamentais do tempo (passado, presente, futuro), tem-se o espaço estático como quarto elemento, necessário para que as mudanças de estado ocorram, e o tempo prove sua função.
O Quaternário é uma representação da condição arquetípica para o relacionamento entre a psiqué e a realidade física. Ou seja, é um exemplo específico de esquema ordenador. A estrutura é fundamentalmente a mesma do sistema quaternário das funções psicológicas formuladas por Jung. Por este motivo, a relação entre três e um quarto elemento evidenciado aparece espontaneamente em sonhos e fantasias.
“Em ambos os casos, o quarto fator representa algo de incomensuravelmente diverso, o qual, entretanto, é necessário para determiná-los, um em relação ao outro. Assim é que medimos o espaço por meio do tempo e o tempo por meio do espaço”. (JUNG, C.G. – C. W. vol. IX/2 § 397, 2008)
Os símbolos da trindade e quaternidade aparecem freqüentemente nos sonhos, e na maioria das vezes não revelam nenhum aspecto místico ou religioso. Os fatores que realmente devem ser levados em conta são: o aspecto numérico e o que os signos presentes no sonho representam para o sujeito. A princípio, tratam-se das quatro funções e aspectos fundamentais da personalidade descritos anteriormente.
O Quarto Elemento inconsciente torna a totalidade possível. Logo, a quarta figura geralmente aparece evidenciada nos sonhos desta natureza, seja de forma extrovertida ou introvertida, positiva ou negativa. Consiste sempre em algo estranho ou incompatível de alguma forma, essencialmente diferente das outras três. O fato de que a integração do quarto elemento simboliza a individuação, para C. G. Jung, leva à conclusão de que a quaternidade consiste em um símbolo legítimo do Si-Mesmo.
“Numerosas quaternidades se desenvolveram na concepção ocidental ao longo da Idade Média; basta mencionar, por exemplo, a representação do Rex gloriae, juntamente com os símbolos dos quatro Evangelistas (três teriomórficos e um humano). No Gnosticismo encontramos a forma divina do Barbelo (‘Deus é quatro’). Este, como outros exemplos, colocam o quatro em estreita ligação com a divindade (desdobrada), e daí resulta aquela impossibilidade, antes mencionada, de distinguir o Si-Mesmo de uma imagem divina. Em todo caso, achei possível encontrar algum critério de diferenciação. Só a fé ou um veredicto filosófico podem decidir acerca disso, mas mesmo assim nem a primeira nem o segundo têm algo a ver com uma ciência empírica”. (C.W. vol. XI, § 281, 1983).
Para compreender como funciona estas estruturas em você, marque uma sessão de astroterapia ou tarot, pelo número 4898826-4115. Obrigada, namastê.