DOIS DE COPAS – “O Amor” – Vênus em Câncer
“ Faz o que tu queres há de ser tudo da Lei. Amor é a lei, Amor sob vontade.” Aleister Crowley
A sensação de conforto e segurança constitui as condições do período pré-natal, das quais emergimos como mamíferos e almas individuais. O útero pertencia ao nosso Cosmo e nossa mãe era o nosso Universo primitivo. O acolhimento e a sensação de unidade começam na vida intra-uterina. Inconscientemente, depois de adultos ainda ansiamos por esta sensação de completude e inteireza, pelo sentimento de absoluta segurança que vivenciamos sob aquele manto de amor e benevolência materno.
Num determinado momento, dentro dessa sensação aquática e intra-uterina ou “manto de amor”, decidiu-se criar uma nova situação. Por questões fisiológicas, havia, por assim dizer, um desejo de experiência de “algo diferente”, além da unidade. E assim há uma cascata de hormônios e reações celulares que desencadeiam no rompimentos dessa água, estoura o saco aminiótico e expulsa-se a placenta e o homem nasce. Assim, todos os estados de água, remetem a esse momento único, em que estamos completamente imersos na totalidade do puro ser, não se experiencia nada… simplesmente se é.
Os estados de água das cartas de Tarot, remetem à esse estado primevo. Devido ao êxtase e à total segurança desse estado de ser, havia uma parte que queria explorar e evoluir. Esta parte “separou-se de si mesma”, ou seja, diferenciou-se para existir como indivíduo. Este foi um grande passo.
No entanto, o parto foi difícil, foi o primeiro suspiro! No momento em que realmente nos separamos do campo da unidade, houve muita dor. Pela primeira vez na nossa lembrança, pela primeira vez na vida, sentimos uma dor profunda. Ficamos com a sensação de que fomos “arrancados” de um reino de amor e segurança completamente incontestável. Esta é a dor do nascimento.
Esta carta representa esse momento de nascimento, em que a força viril que dá impulso à manifestação e o princípio ativo que estimula a evolução, a partir do contato com as emoções. Numericamente falando, o número um pelo um não pode crescer, mas o dois pode fazer quatro, seis e um leque de exponenciais possibilidades.
Alguns antropólogos acreditam que o instinto mais primitivo que nos desenvolveu em sociedade, foi a capacidade de nos unirmos e nos dispormos para o amor, ou seja, sair do um individual e desejar pelo resgate de união com o cosmo fetal, a partir da união do dois.
Assim, no naipe da Água é natural fazer referência ao amor, ao nascimentos o qual recupera a unidade a partir da divisão por mútuo aniquilamento. A famosa pintura de “O Nascimento de Vênus”, do Leonardo Da Vinci retrata esse desejo de resgatar o êxtase da individuação. Esse é o recurso biológico que garante a preservação da espécie, a unidade que só é possível a partir da união de um mais um, formando o dois. A partir desse anseio primitivo vem a nossa ancestralidade e também a posteridade, ad infinitum.
A carta se refere a Vênus em Câncer. Mais do que qualquer outro signo, Câncer é um signo receptivo; regido pela água e pela Lua. É a saída da “casca” solitária para a procura do par de opostos. A saída do útero materno para a unidade e da unidade para a união com os opostos semelhantes.
O hieróglifo da carta representa duas taças no primeiro plano, transbordando sobre um mar tranquilo. São alimentadas de água luzente que provém de um lótus que flutua sobre o mar. Do lótus nasce outro lótus em torno de um pedúnculo, que se entrelaçam gêmeos dourados. A cor dourada tem profundo significado, é conhecida como a “Arte Real”. O dourado é sagrado de uma forma peculiar para a alquimia.
O número dois se refere à vontade, esta carta poderia ser renomeada de “Amor sob Vontade”, mostra a harmonia do macho e da fêmea. A carta irradia uma intensidade de alegria e êxtase, então, podemos dizer que a plenitude do Ser surge quando ele depara-se com a alegria de ser único, mas ciente de que é dual por dentro, e como interage com tudo, tanto do seu mundo interno quanto externo, percebe que não é possível ser feliz sozinho. Assim, essa é a carta que torna consciência de si a partir de uma relação de amor consigo e está pronto para dividir seu êxtase e amor com alguém.
O amor é o caminho para a evolução.
SÍMBOLO | SIGNIFICADO |
Água transbordando | Autoestima elevada |
Peixes entrelaçados, que jorra água | Aliança de alma que pode se transformar em uma relação com vínculo afetivo e troca emocional |
Duas flores de lótus de cor rosa desabrochadas, ligadas uma à outra | Desenvolvimento harmônico, ligação entre dois pólos, amor profundo |
Águas calmas e céu azul | Paz e Harmonia, vindas da Vontade |
Dois cálices | Vontade emocional direcionada |
Elemento e número | Fusão (Água) de encontrar a realização a partir dos opostos (2) |
Astrologia: Vênus (♀) em Câncer (♋) | Vida e fecundidade a partir da nutrição emocional(♋) vindos de harmonia e beleza da Vontade (♀) |
Cabala: Hokmah: a sabedoria se espalha e forma 4 rios | A força viril dá impulso à manifestação. O Amor nasce. |
LEITURA TERAPÊUTICA:
“Todo homem e toda mulher têm um curso, dependendo parcialmente de si próprios e parcialmente do ambiente, curso esse que é natural e necessário para cada um. Qualquer pessoa que seja forçada para fora de seu próprio curso, quer através do não entendimento de si própria, ou por meio de oposição externa, entra em conflito com a ordem do universo e, assim, sofre.” Aleister Crowley
Após a consciência vivenciada pelo “Às de Copas”, vemos que podemos fazer algo muito lindo e a partir de uma força emocional criativa, aprendemos a reconhecer como somos diante de um isolamento total. Por mais miserável que seja essa condição, ela é muito útil, pois só nela o “doente” pode se reconhecer, pode aprender a avaliar o quão inestimável é o amor entre os seres, e que sem isso ele apenas se sente no mais profundo abandono e solidão consigo mesmo, vivenciando forças inúteis, sem direção.
Diante desse sentimento, surge o “Dois de Copas”, numa alegria que vem do reconhecimento de si primeiro e consequentemente do outro.
Nos dias de hoje, nem sempre conseguimos ter tempo para alcançar essa tal plenitude e ignoramos o fato de que somos capazes de sermos sempre felizes e plenos.
Ao lado do imenso desenvolvimento tecnológico e do apelo para um consumismo exacerbado, nossa cultura fomenta o distanciamento do contato íntimo e profundo com nossa natureza e necessidades mais essenciais. Dentre nossas grandes perdas está a dessacralização da vida.
O sagrado foi sendo paulatinamente confinado a templos que, mesmo assim, estão alijados da experiência do numinoso, e abertos para cultuarem valores materiais. O resultado é que a vida passa a ser imediatista, dissociada da transcendência. Cada vez temos pouco espaço e tempo que ofereçam às pessoas o contato com essa dimensão.
Os lugares numinosos, nos quais a percepção com o Todo (como quiser chamar esse Todo, Deus, Buda, Krishna ou simplesmente Todo) se faz viva, está distante da experiência cotidiana das pessoas, especialmente daquelas que vivem em grandes cidades e que, com frequência, não veem o nascer nem o pôr-do-sol, nem as estrelas, nem a lua, escondidos pelas rotinas e pela poluição.
Sem um espaço preservado no qual os ritos tenham lugar e as iniciações possam ser levadas a cabo, em que um guia ou mestre acompanha a vivência de crescimento e transformação na qual o sagrado se manifesta, o ser humano se aliena de sua alma e de seu espírito. Ao viver uma existência dominantemente superficial, ele perde o contato com seu próprio centro e com o significado fundamental de sua experiência de vida.
A banalização da vida traz a falta de sentido, a sensação de vazio, de perda de conexão com a existência, e com isso, aniquila a sua alma. A sacralidade da vida é na verdade a sua celebração, e opõe-se à mediocridade. A transgressão torna-se uma necessidade, pois a real essência pode transcender a normatização e fazer a pessoa voltar ao seu estado natural.
Na verdade, como funções estruturantes criativas, o sagrado pode ser profundamente transgressor. Com espaços para a vivência dos símbolos confinados, a transgressão é o elemento de ruptura com o status quo.
A transgressão pode vir acompanhada de uma vivência do sagrado, que conduz a uma experiência de totalidade e, portanto, não subordinada ao Ego e a valores construídos aleatoriamente pelo consumo e materialismo.
É importante conhecer a transgressão como uma ruptura ao velho, a estruturas caducas que já não tem mais significado e que precisam urgentemente se refazer.
Nossa capacidade de elaboração simbólica, que Jung denominou Função Transcendente, é a condição fundamental para a realização do potencial humano. É através dela que as experiências podem ser vividas com profundidade e significado.
Algumas dessas vivências, como o amor e a criatividade, são funções estruturantes que podem ser extremamente transgressoras, e que, ao mobilizarem grande quantidade de energia, contribuem imensamente para a estruturação, desenvolvimento e transformação da Consciência.
Esse é o ponto de partida da cura através da carta “Dois de Copas”. O “Amor” surge de uma oportunidade de transgredir com tudo aquilo que não alimenta mais o Ser.
Quando a pessoa não desenvolve seu potencial, ela prejudica não apenas a si própria, mas também aos filhos, amigos e às pessoas que estão à sua volta, além de restringir sua participação criativa no âmbito da sociedade e da cultura. Numa família, esta dificuldade pode ser transmitida às gerações futuras.
A mensagem contida no “Dois de Copas” ou “O Amor” nasce de um desejo individual de crescimento, mas colocado em prática pode se estender como ramo de uma videira à família, ao trabalho e aos relacionamentos. Ele deve ser o alicerce fundamental para tudo.
O amor é uma necessidade vital, portanto, não suprir essas necessidades produz, no ser humano, a sensação de não ser visto. Fisiologicamente, traz o efeito profundamente deletério, pois o olhar do outro sobre nós é fundamental para o estabelecimento da nossa identidade. Sabemos que a luz, elemento indispensável à visão, é associada à Consciência. É também a visão, o órgão dos sentidos que possivelmente mais expresse um encontro de alteridade, que permite que o Ego e o Outro interajam de modo simétrico e simultâneo. Ao olhar o olhar do Outro, eu vejo e sou visto, vou em direção ao Outro e também o acolho. Decidir não ver é privar-se desta interação direta e logo reduz a capacidade de amar.
Há uma corrente metafísica que une a psicologia e a espiritualidade, e traz uma importante lição: nós só temos duas escolhas, o Amor ou o Medo. Se o medo é ausência de Amor e se tudo o que o permeia não pode ser outra coisa, então tudo é Amor.
“A experiência vivida por todos os grandes místicos é a consciência da não separação, de que estamos todos interligados. Quando se percebe isso, nossa capacidade de relacionamento muda na hora. É importante que cada ação nossa seja uma ação amorosa, que transforme a realidade.” Monja Coen
Alcançar essa compreensão, não apenas mental, mas senti-la em todo o Ser faz muita diferença. Talvez esse seja, de fato, o despertar.
Buscar um propósito, conhecer quem realmente é e o que veio fazer aqui, movimentando-se rumo a algo que preencha a alma. Ressignificar histórias, relações, morrer e renascer para si. Curando-se para curar. Esse é o caminho de aventuras e curas mais lindo que podemos conhecer ao passar pelo “Amor” e que devemos encorajar nosso consulente a experienciar e principalmente, mostrar que ele deverá fazer isso por si mesmo!
Assim entramos, então, no terreno da última e terceira dimensão amorosa: o amor por tudo o que nos cerca. Nós só amamos de verdade quando, indo além de nós mesmos, o nosso amor inclui o amor às pessoas, às plantas, aos animais, às fontes de águas, aos alimentos e a todas as outras formas de vida. Nesse sentido, uma definição para o amor seria esta: amor é a consciência em ação. É compreender que, em última instância, a ligação que temos com cada pessoa e cada ser vivo é o elo que nos une à divindade.
A partir dessa consciência, não precisamos mais falar sobre o amor, pois ele já é uma manifestação viva em nossa vida. E daí, sim, podemos concluir nossa história com um sonoro e legítimo: “E viveram felizes – e conscientes – para sempre”.
INTERPRETAÇÕES GERAIS
Momento Atual: O consulente está se questionando o quanto se ama, o que poderia fazer ou deixar de fazer para melhorar sua autoestima, para desenvolver amor por si mesmo e pelo mundo. Com a combinação de outras cartas (como o 4 de Copas ou Às de Discos), pode mostrar um desejo por relacionamentos amorosos, ou ainda uma ruptura de um relacionamento amoroso que obriga a pessoa a reconstruir sua autoestima (5 de Copas ou 3 de Espadas).
Inconsciente: dentro de um jogo que saia a opção mais íntima do consulente, esta carta pode mostrar um padrão crônico de carência, numa tentativa de preencher o que não recebeu na infância. Conversar com ela sobre se tornar adulto emocionalmente para dissolver este padrão. Com o Cavaleiro de Copas, trata-se do arquétipo de Dom Juan “pegador”, que se disfarça de sedutor mas não desenvolve um relacionamento maduro com ninguém, porque tem medo e inseguranças.
Necessidade Interna: O Ser Interno da pessoa necessita receber um balde de amor, permitir amar e ser amado, parar com auto exigências e imposições mentais e tratar-se com ternura e afeto.
Relacionamentos: Dentro de um jogo de relacionamentos, esta carta poderá mostrar duas coisas, a depender de outras cartas, se fará a seguinte interpretação:
A) Acompanhado com o 3, o 4 e o 6 de Copas. O relacionamento ajuda a pessoa a amar-se. A mente pára e entrega-se, permitindo dissolver-se no Amor. Este relacionamento libera os bloqueios e cura feridas, ou seja, é um “santo remédio” e melhora não só a vida amorosa da pessoa em questão, mas a própria pessoa em si. Acompanhada com uma figura de Corte, é possível confirmar que há realmente uma paixão se aproximando.
B) Com outras cartas (como o 3, 5 ou 9 de Espadas) mostra que a pessoa vive dentro de um relacionamento destrutivo e sua alma está clamando urgentemente por Amor genuíno. Geralmente a pessoa usa a Persona, uma máscara meiga e cordial, mas se envolve em relacionamentos cruéis, que ela doa muito, recebe pouco e fica insatisfeita. Esses traços de desvalorização mostram que ela precisa amadurecer o seu Amor, sua autoestima.
Plano da consciência: unir as duas almas que existem dentro de si.
Encoraja a: ligar-se afetuosamente consigo e deixar fluir até ser absorvido no Amor Universal, que a tudo cura, tudo transcende.
Alerta sobre: cuidar com uma necessidade excessiva de harmonia, que acabará em tornar-se um hábito de negação dos gostos e vontades pessoais.
Caminho de cura: estimular a pessoa a olhar e entrar em contato com a criança interior, para amadurecer a parte que ficou carente desde a infância, acolhendo e colocando afeto nessa lacuna. Temperar com amor a vida passando um tempo fazendo o que gosta, cuidando do corpo com boa alimentação, recebendo massagens, equilibrando o ritmo de trabalho, selecionando as amizades e relacionando-se com pessoas dispostas a dar e receber amor, sem julgamentos e culpas são formas de nutrir-se emocionalmente.
Resultados práticos: a pessoa precisa elevar sua autoestima, então, espera-se que, pouco a pouco, o amor sacie todas as áreas de sua vida, e finalmente ela alcance um estado abundante de plenitude. Áreas que estavam ocupadas com medo, raiva, inveja, frustrações, ansiedade, culpa, foram substituídas pelo solvente do amor e lhe trouxeram uma nova alegria e totalidade no viver. O coração torna-se o guia de sua vida.
Pode-se tirar novas cartas para mostrar em que áreas da vida ela desbloqueou e ver onde ela poderá transferir mais energia para cultivar esse amor. Se for no trabalho, as cartas 4, 5 de Paus, “O Imperador” ou 9 de Discos poderão aparecer. As cartas de 4, 6 de Copas ou “Os Amantes” poderão indicar que a pessoa tem um relacionamento amoroso muito construtivo e benéfico pela frente.
Assista também este vídeo sobre “Dois de Copas – O Amor”:
Assista mais vídeos e acompanhe a página no Facebook. Tem sempre novidades quentinhas!