Em magia, como em religião e em linguística,
são as idéias inconscientes que agem.
Marcel Mauss
Em determinado período da Antiguidade, vindo de uma raiz preservada pela tradição Egípcia, um corpo de conhecimento se codificou para o entendimento do homem perante as obras da natureza e a força que a gerou.
Tendo em vista o conhecimento em um aspecto geral de tal tradição e sua essência para enxergarmos, ainda que de forma introdutória, métodos de transformação construtivos e evolucionistas, cremos não ser necessário termos definida certeza de sua origem, e sim sua utilidade.
Esse conhecimento ascendeu através do mensageiros dos deuses do Egito Antigo, chamado Thoth. Escriba da sabedoria, sua aparência antropozoomórfica, metade cabeça de íbis, metade homem, teve seu papel fundamental e importante na Tradição, o celebre sábio foi divinizado e incorporado ao panteão dos Deuses.
Antes de ser reverenciado como um deus, ele foi o primeiro grande filósofo egípcio e fundador das Escolas de Mistérios Antigos. Recebendo sua sabedoria em transes meditativos e escreveu mais de 40 livros, incluindo a Tábua de Esmeralda, o Livro de Thoth e o Divino Pymander, com o Livro de Thoth apenas sendo dado a seus iniciados iluminados dos Mistérios.
Thoth ficou muito popular no Egito Antigo e mais tarde, seus atributos chegaram a Grécia e tomaram novas formas. Hermes, ou Mercúrio na tradição romana, é o nome mais famoso de Thoth e até os dias de hoje é alvo de muitas interpretações.
Hermes Trismegisto (em latim: Hermes Trismegistus; “Hermes, o Três Vezes Grande”) é o nome dado pelos neoplatônicos, místicos e alquimistas ao deus egípcio Thoth, identificado com o deus grego Hermes. Ambos eram os deuses da escrita e da magia nas respectivas culturas.
Tanto Thoth quanto Hermes eram também considerados psicopompos, aquele encarregado de levar as almas para o mundo dos mortos.
Hermetismo
De Hermes surgiu o Hermetismo, ou a palavra “hermético”, que segundo o dicionário online de português, significa:
- Inteiramente tapado, de maneira a impedir a passagem de ar; selado, lacrado.
- De difícil compreensão; que tende a ser obscuro ou pouco claro; enigmático: texto hermético.
- Que se pode referir à alquimia ou ao Deus grego Hermes.
Para situarmos especificamente a via desse corpo de conhecimento e sua ação até os dias de hoje em todas as culturas, religiões e filosofias, é mister ao menos sabermos um pouco do porque da alcunha do Hermetismo e sua filosofia que perpassou os séculos.
Naquele tempo, possivelmente entre a IV e X dinastia, existiu um sábio Kheri Heb ao qual veio a ser identificado em uma variável grega pelo nome de Hermes Trismegistos.
Acredita-se que Hermes viveu aproximadamente entre o ano de 2000 antes de Cristo, justamente no período em que o Egito estava sendo assolado pelos reis pastores Hicsos.
Hermes instruiu poucos adeptos, mas de sua linhagem derivou-se alguns alunos que, para preservar a memória e o método do mestre, criaram a escola ou como denominam alguns, a Universidade de Hermes, de onde derivam vários escritos atribuídos ao mestre.
Tábua de Esmeralda
Hermes Trimegisto escreveu, entre outras obras, a Tábua de Esmeralda, que deu origem a Alquimia, e o Corpus Hermeticum.
O primeiro vestígio documentado sobre a Tábua de Esmeralda pode ser encontrado numa carta de Aristóteles a Alexandre o Grande durante a sua campanha na Pérsia. Esta carta integra na versão em latim da grande obra “Secretum Secretorum” (“Segredo dos Segredos”); traduzida a partir do original em Árabe “Kitab Sirr al-Asrar”, que é um gênero de livro de conselhos, tratado e enciclopédia para todos os grandes governantes da época.
Este livro fala sobre as ciências que regem o Universo, e foi um dos livros mais lidos da Idade Média, por conter os maiores e mais poderosos mistérios; desde a Astrologia e propriedades mágicas e medicinais de plantas e minerais, numerologia, e acima de tudo, o segredo sobre uma ciência unificada.
Veja a seguir o texto em latim da Tábua de Esmeralda e em seguida sua tradução:
(1) Verum sine mendacio, certum et verissimum:
(2) Quod est inferius est sicut quod est superius, et quod est superius est sicut quod est inferius, ad perpetranda miracula rei unius.
(3) Et sict omnes res fuerunt ab Uno, mediatione unius, sic omnes res natæ fuerunt ab hac una re, adaptatione.
(4) Pater ejus est Sol, mater ejus Luna;
portavit illud Ventus in ventre suo; nutrix ejus Terra est.
(5) Pater omnes Telesmi totius mundi est hic.
(6) Vis ejus integra est, si versa fuerit in Terram.
(7) Separabis terram ab igne, subtile a spisso, suaviter, cum magno ingenio.
(8) Ascendit a terra in cœlum, interumque descendit in terram et recipit vim superiorum et inferiorum.
(9) Sic habebis gloriam totius mundi.
(10) Ideo fugiet a te omnis obscuritas.
(11) Hic est totius fortitudinis fortitudo fortis: quis vincet omnem rem subtilem omnemque solidam penetrabit.
(12) Sic mundus creatus est.
(13) Hinc erunt adaptationes mirabiles quarum modus est hic.
(14) Itaque vocatus sum Hermes Trismegistus, habens tres partes philosophiæ totius mundi.
(15) Completum est quod dixi de Operatione Solis.
Tradução:
(1) É verdade, certo e muito verdadeiro:
(2) O que está embaixo é como o que está em cima e o que está em cima é como o que está embaixo, para realizar os milagres de uma única coisa.
(3) E assim como todas as coisas vieram do Um, assim todas as coisas são únicas, por adaptação.
(4) O Sol é o pai, a Lua é a mãe, o vento o embalou em seu ventre, a Terra é sua alma;
(5) O Pai de toda Telesma** do mundo está nisto.
(6) Seu poder é pleno, se é convertido em Terra.
(7) Separarás a Terra do Fogo, o sutil do denso, suavemente e com grande perícia.
(8) Sobe da terra para o Céu e desce novamente à Terra e recolhe a força das coisas superiores e inferiores.
(9) Desse modo obterás a glória do mundo.
(10) E se afastarão de ti todas as trevas.
(11) Nisso consiste o poder poderoso de todo poder:
Vencerás todas as coisas sutis e penetrarás em tudo o que é sólido.
(12) Assim o mundo foi criado.
(13) Esta é a fonte das admiráveis adaptações aqui indicadas.
(14) Por esta razão fui chamado de Hermes Trismegisto, pois possuo as três partes da filosofia universal.
(15) O que eu disse da Obra Solar é completo.
O Hermetismo trabalha principalmente com a ideia de completude entre forças opostas como o microcosmo e o macrocosmo. O microcosmo representa o ser humano e o macrocosmo o universo.
Outras forças opostas que se completam são o bem e o mal, o feminino e o masculino, a luz e a sombra. A Lua representa uma polaridade e o Sol representa outra, e assim sucessivamente.
O Caibalion
2. O Principio de Correspondência
3. O Princípio de Vibração
6. O Principio de Causa e Efeito
7. O Principio de Gênero
Tarot e Hermetismo
No final do século XIX, o pastor protestante e estudioso de esoterismo Antoine Court de Gébelin, sem qualquer evidência material que desse suporte a suas alegações, relacionou o Tarot às antigas escolas de Mistérios, especialmente aquelas que se originaram no Egito e se espalharam pela Europa nos cinco séculos que antecederam a Era Cristã, como os Mistérios Essênios, Elêusis, Órficos e Pitagóricos. Essa afirmação encontra-se em seu livro “O Mundo Primitivo analisado e comparado ao Mundo Moderno”.
Ocultistas passaram a atribuir a sabedoria do Tarô ao deus egípcio Thoth ou ao deus Hermes, às vezes na figura de um sábio, cuja existência também é uma suposição, chamado Hermes Trimegisto.
A sobreposição de conhecimentos esotéricos e ocultistas ao Tarô especulam inclusive sobre o significado de seu nome. Alguns dizem que TARO vem do egípcio TAR = “caminho” e RO = “rei”, significando “Caminho Real”; outros afirmam sua origem hebraica, como corruptela de TORA, a Lei Divina; no latim, temos duas palavras relacionadas ao TARO como anagramas: ROTA, ou “roda” e ORAT, ou “anunciar”.
O pesquisador Paul Foster Case lembra ainda que no Egito havia uma Deusa da Iniciação chamada ATOR Assim, cria a frase ROTA TARO ORAT TORA ATOR, ou “A roda do tarô anuncia a lei da iniciação”.
Embora sua origem exata seja desconhecida, diversos ocultistas famosos como Paracelso (Teophrastus Bombastus von Hohenheim), Papus (Gerald Encausse), Fabre d’Olivet, Court de Gebelin e Eliphas Levi (Alphonse Louis Constant) e Aleister Crowley atribuem aos egípcios a criação do Tarot, outros aos Atlantes.
Segundo Ouspensky, durante a Idade Média, quando os Tarot’s apareceram historicamente na Europa, existia uma tendência para a construção de sistemas lógicos, simbólicos e sintéticos análogos à “Ars Magna” de Raymond Lully.
Mas produções similares ao Tarot existiram na China e na Índia, desse modo impedindo-nos de imaginar que o Taro foi um destes sistemas criados na Europa, durante a Idade Média.
Por diversos motivos, é também evidente que o Tarot está conectado aos Antigos Mistérios e Iniciações Egípcias. Entretanto, embora de origem discutível e de objetivos desconhecidos o Tarot é sem nenhuma dúvida o mais completo código de simbolismo Hermético que possuímos.
Diz Eliphas Levi no seu Dogma e Ritual da Alta Magia:
“O Tarot é uma verdadeira máquina filosófica que impede a mente de vagar, embora mantenha sua iniciativa e liberdade; é matemática aplicada ao Absoluto e aliança entre o positivo e o ideal, uma loteria de pensamentos tão exatos quanto números, talvez a mais simples e maior criação do gênio humano…”
Eliphas afirma ter encontrado uma peça de Tarot cunhada no antigo Egito, e sobre ela diz:
“… Essa Clavícula, considerada perdida durante séculos, foi por nós recuperada e temos sido capazes de abrir os sepulcros do mundo antigo, de fazer os mortos falarem, de observar os monumentos do passado em todo o seu esplendor, de entender enigmas de cada esfinge e de penetrar todos os santuários. …Ora a chave em questão era esta: um alfabeto hieroglífico e numérico, expressando por caracteres e números uma série de idéias universais e absolutas.”
Laurens van der Post em sua introdução para o livro “Jung e o Tarot – uma Jornada Arquetípica” de Sallie Nichols, coloca:
“Ele (Jung) reconheceu de pronto, como fez com muitos outros jogos e tentativas primordiais de adivinhação do invisível e do futuro, que o Tarot tinha sua origem e antecipação em padrões profundos do inconsciente coletivo, como acesso a potenciais de maior percepção à disposição desses padrões. Era outra ponte não-racional sobre o aparente divisor de águas entre o inconsciente e a consciência, para carrear noite e dia o que deve ser o crescente fluxo de movimento entre a escuridão e a luz… Desta forma o Tarot é no mínimo uma autêntica tentativa de ampliação das possibilidades das percepções humanas…”
O Tarot, como quase tudo relacionado ao conhecimento antigo, tem um passado incerto. Costuma-se afirmar que tenha se originado no Antigo Egito, justamente com o Hermetismo. Os jogos de carta começaram a se popularizar na Europa no séc XIV e o Tarot mais popular – conhecido com o Tarô de Marselha, surgiu no final do séc XV, constituído por 22 arcanos maiores, de sentido mais geral e por 56 arcanos menores.
Este Princípio nos diz que o Universo é uma criação da mente. Podemos dizer que o Universo Infinito é criação da Mente Infinita do Universo, enquanto que o nosso Universo pessoal é criado pela nossa própria mente.
No Arcano Zero ou também 22, vamos a grande manifestação deste princípio, a mente cria e descria, e se tivermos mais domínio sobre este nosso grande instrumento, podemos transformar o mundo, ou seja, passamos do Zero (Nada) ao Tudo e Todo (Arcano 22).
O traço realmente importante dessa carta é que seu número deve ser 0. Representa, portanto, o negativo acima da Árvore da Vida, a fonte de todas as coisas. É o zero qabalístico. É a equação do universo, o equilíbrio inicial e final dos opostos; o ar, nessa carta, por conseguinte, significa quintessencialmente o vácuo.
No baralho medieval, o título da carta é Le Mat, adaptação do italiano Matto, que significa louco ou tolo; a propriedade desse título será considerada na seqüência deste ensaio. Mas há uma outra, ou melhor (poder-se-ia dizer), uma teoria complementar. Se supusermos que o Tarô é de origem egípcia, será possível conjeturar que Mat (esta carta sendo a carta-chave do baralho inteiro) representa Maut, a deusa-abutre, que é uma modificação mais antiga e mais sublime da idéia de Nuit do que Ísis.
Há duas lendas ligadas ao abutre. Supõe-se que ele possua um pescoço em espiral, o que possivelmente se refere à teoria (recentemente ressuscitada por Einstein, mas mencionada por Zoroastro em seus Oráculos) de que a forma do universo, a forma daquela energia que é chamada de universo, é espiral. Na outra lenda supõe-se que o abutre reproduza sua espécie mediante a intervenção do vento; em outras palavras, o elemento ar é considerado como o pai de toda a existência manifestada. Existe um paralelo disso na filosofia grega, na escola de Anaxímenes.
O “Homem verde” do festival da Primavera. “ O bobo de primeiro de Abril.” O Espírito Santo.
Esta tradição que Crowley resgatou nas cores verdes da carta, representa a ideia original adaptada à compreensão do camponês médio. O Homem Verde é uma personificação da influência misteriosa que produz os fenômenos da Primavera.
Há uma conexão com as idéias de irresponsabilidade, de desregramento, de idealização, de romance, de devaneio radiante na cultura com o aumento da temperatura, aqui retratada como Primavera. Para muitos povos antigos, o início do ano ocorria logo que manifestava o fim do Inverno, ou seja, o fim da morte (Inverno, Atu 22) para o início da vida (Primavera Zero).
O Louco se agita dentro de todos nós no retorno da Primavera; e, por estarmos um tanto desnorteados, um tanto constrangidos, pensou-se ser salutar o costume de se exteriorizar o impulso subconsciente mediante recursos cerimoniais. Era uma forma de facilitar a confissão.
Relativamente a todos esses festivais primaveris, pode-se dizer que são representações sob a forma mais simples, sem introspecção, de um fenômeno perfeitamente natural. Deve-se observar, em particular, o costume do ovo de páscoa da cultura nórdica, que hoje praticamos na Páscoa (na data errada, no Hemisfério Sul deveria ser em Setembro, no início da Primavera), com adoração a deusa jovem, quase criança, a pura Ostara.
A precessão dos equinócios fez a Primavera começar com a entrada do Sol em Áries (O Carneiro) em lugar de Pisces (Peixes).
No Grande Louco existe uma doutrina definida. O mundo está sempre procurando um salvador, e a doutrina em pauta é filosoficamente mais do que uma doutrina: é um simples fato. A salvação, seja lá o que possa isto significar, não é para ser obtida mediante quaisquer termos razoáveis. Razão é um impasse, razão é danação; só a loucura, loucura divina, oferece uma saída.
A lei humana não servirá; o legislador pode ser um condutor epilético de camelos como Maomé, um filho da fortuna provinciano e megalomaníaco como Napoleão, ou mesmo um exilado, três partes sábio Hermes, uma parte maluco, um morador de sótão em Soho, como Karl Marx. Há somente uma coisa em comum entre essas pessoas: são todas loucas, quer dizer, inspiradas.
Quase todos os povos primitivos possuem essa tradição, ao menos sob forma diluída. Respeitam o lunático errante, pois pode ser que ele seja o Mensageiro do Altíssimo. “Este estrangeiro esquisito ? Vamos tratá-lo bondosamente. Talvez estejamos lidando com um anjo sem o saber ”.
A roda da Fortuna gira, gira e continua a girar, e no seu contínuo movimento sela os destinos da humanidade, que não tem a quem se queixar. Roda injusta, roda criativa, roda de infortúnios, roda feliz, que faz dos homens, até mesmo dos reis um simples e mero aprendiz.
Roda do Karma, roda da Vida, roda de Sansara, roda desinibida, que ao mesmo tempo em que nos traz a cura, produz incontáveis feridas, ao longo de nossas vidas.
Roda do poder, roda da nobreza, mas também, roda das calamidades e roda da incerteza. Livra-me das tuas garras impiedosas, e faz com que eu beba de tuas fontes majestosas.
Roda do afeto e da paixão, que num simples piscar de olhos converte o doce néctar do amor adolescente, no pranto dolorido e amargo de um velho solitário e decadente.
Roda dos meus receios e das minhas coragens, permita-me conduzir minha vida com a graça de um cavalheiro passeando em sua carruagem numa tarde de outubro em meio á uma bela paisagem.
Roda do destino, do começo, meio e fim, que representa o começo de uma nova vida para mim. Faz com que ao realizar a minha passagem para as terras que estão além dos jardins, Deus se compadeça de minha alma libertando-me de mim mesmo, e dando-me uma nova chance de renascer, para novamente pode guia-la por este caminho que não tem fim.
A rodano centro da lâmina incessantemente girando representa a própria mutabilidade do Universo, bem como as inúmeras mudanças e fases de vida do ser humano, que hora se encontra no topo da roda, hora se vê esmagado por ela.
Este caráter fatalista do Arcano vem de tempos longínquos, situados principalmente na chamada idade das trevas, onde a cada inverno algumas sacerdotisas da Grande Deusa também alguns Druídas tinham por hábito sacrificar um rei que estava no poder, (o topo da roda) oferecendo-o á Grande Deusa, possibilitando assim o seguir das estações, escolhendo após o sacrifício do rei antigo, um novo rei para junto com a Deusa, – muitas vezes personificada na Terra por uma Sacerdotisa- renascerem na Primavera, reiniciando assim o ciclo das estações com todas as suas mudanças e rituais de passagem.
Conta-se que o Grande Rei Arthur antes da sua última batalha teria tido a visão de uma grande roda, onde sentava-se imponente um rei, cercado de poderio tanto militar, quanto material. Esta roda de repente impulsionada pela mão da deusa Fortuna, girava e o poderoso rei que Arthur via em seu topo, acabava sendo esmagado pela mesma.
Arthur compreende com isto, que não importa quando poder acumulemos nesta vida, nem a natureza deste poder, uma vez que as nossas existências realmente repousam no plano material, às vezes estamos no alto e às vezes, embaixo.
Muitos outros exemplos das mais diversas partes do mundo, principalmente os relacionados ao sacrifício de quem se encontra no poder, para servir a um ideal maior e realmente tomar parte na mutabilidade da vida, das estações, ou seja lá do que for, poderiam ser dados, mas o que importa, é que realmente compreendamos que a vida é algo muito instável e ilusório que pode mudar de uma hora para outra, sem que muitas vezes nos apercebamos das sutis mudanças que estão ocorrendo constantemente ao nosso redor, mudanças estas que no futuro originarão grandes transformações.
No Tarot de Namur, o centro da Roda da Fortuna do tarô Namur, podemos ver um olho, o que nos faz pensar que este olho possa ser uma alusão ao ‘olho que tudo vê’, – símbolo mui respeitado por tratar-se do olho de Deus, e largamente utilizado em varias tradições herméticas, embora podendo variar no desenho.
Ele foi colocado no décimo Atu para representar que estamos abaixo das mudanças que ocorrem no Universo, no mundo, nos reinos da natureza, na sociedade humana, e, principalmente as mudanças pessoais que ocorrem dentro de nós, contribuindo ou não com a evolução de todo o Universo, uma vez que somos co-criadores com o Todo na manifestação da Grande Obra.
“Nada está parado; tudo se move; tudo vibra.”
Este princípio é “O Carro”, Arcano 7 do Tarot, a única diferença entre as diversas manifestações de Matéria, Energia, Mente e Espírito em níveis de vibração. A física moderna já diz que tudo é energia, e que matéria é energia condensada. Nada está parado.
Um ponto interessante é que no nível de energia, semelhante atrai semelhante, então é por isso que você já deve ter ouvido várias pessoas falarem que você atrai o que transmite.
É interessante observarmos o conjunto formado pela carruagem, pelas quatro colunas e pelo triângulo acima das quatro colunas. Como podemos verificar, temos um quadrado encimado por um triângulo. Esta figura geométrica representa a ‘pedra cúbica’, – um símbolo de perfeição – que apenas pode atingir esta forma perfeita depois do exaustivo trabalho de equilíbrio de oposto, silêncio e dedicação do guerreiro acima do carro, submetendo os seus erros e paixões, a serviço de algo maior.
Em linguagem bem esotérica e para aqueles que gostam do estudo da simbologia, o Quadrado representaria a personalidade humana formada por quatro níveis ou aspectos a saber: o físico, o duplo etérico, o emocional e o mental concreto. O quadrado também representa os já conhecidos quatro elementos da natureza: fogo, água, ar e terra.
As duas esfinges que puxam o carro e são dominadas pelo guerreiro representam forças opostas, mas que podem ser sub julgadas, e, trabalhar em união fazendo triunfar o condutor da carruagem. A esfinge branca representa o bem conquistado, e, a negra, o mal vencido.
Existem quatro colunas que sustentam o dossel, cujos significados são: saber, ousar, querer e calar. Sem estas quatro virtudes herméticas, é realmente impossível a realização de qualquer operação magica verdadeira, e o Guerreiro – Mago que conduz o carro de forma triunfante, deixa de ser reconhecido por este titulo e passa a ser um fanfarrão aventureiro, que mais fala do que realiza.
As colunas, também representam os quatro elementos da natureza, que se submetem ao Senhor do Cetro e da Espada- o Mago vencedor; que triunfou de suas provas e atingiu a real Consciência e sabedoria da vida.
O Cavaleiro domina o território atual em que ele se encontra, bem como aqueles que ele já conquistou (o cetro). Se juntarmos toda a simbologia do Atu teremos o seguinte significado:
“O Espírito, domina a forma, que por sua vez está manifestada no globo terrestre, que seria o plano físico”.
Neste plano de Consciência, a Lei da Polaridade é o Arcano 6 “Os Enamorados”. Por isso temos Dia e Noite, Quente e Frio, Seco e Molhado, Bonito e Feio e assim por diante. O Princípio da Polaridade nos ensina que dois pólos de energia são idênticos em natureza e diferentes em grau. Por exemplo, você combate o frio com o calor, que é o oposto do frio na mesma natureza.
O ódio deve ser combatido com o amor, pois da mesma forma, é o outro pólo de uma mesma emoção.
Dúvida, confusão, insegurança, indecisão, instabilidade emocional e incerteza são apenas algumas das palavras que os estudiosos utilizam sobre o Tarot já há alguns séculos para definir o sexto Atu.
O Arcano dos Enamorados também está associado à luta entre a consciência e as paixões, e esta luta não precisa necessariamente se dar na área emocional de nossa vida, podendo aparecer até mesmo em áreas bem materialistas ou altamente espiritualistas.
A luta entre a consciência e as paixões, muitas vezes surge quando nos deixamos envolver demais pelos problemas de outras pessoas, ou quando voltamos os nossos olhos radicalmente para o nosso mundo material esquecendo-nos completamente que não somos compostos apenas pela matéria, negócios e trabalhos, e que temos que ter um tempo para o nosso relaxamento, repouso, boa alimentação e meditação.
Às vezes estamos tão envolvidos por questões que não nos dizem respeito e por problemas que não são os nossos que quando damos por nós, completamente cansados, exaustos e confusos diante de nós mesmos e de nossas vidas, vemos nitidamente que nos últimos tempos não estivemos vivendo a nossa vida intensamente, mais sim a vida de nosso patrão, sogra, vizinho, filhos, marido, esposa.
De maneira alguma estou afirmando que não temos que nos preocupar com os outros, porque isto seria de um extremo egoísmo; mas antes de mais nada em uma fase onde nossa vida está confusa se tentarmos resolver em primeiro lugar as confusões das outras pessoas e depois as nossas, jamais sairemos da ‘’grande encruzilhada dos delirantes’’ que acham soluções para todo mundo enquanto suas próprias vidas permanecem sempre descuidada e caótica.
Se você estivesse em um navio afundando, seria louco o suficiente de salvar os demais tripulantes estando sua cabeça ainda abaixo das águas?
Ao nos afastarmos do puritanismo e falso moralismo que infestam a nossa sociedade e sem querer nossa mente, veremos que o caminho errado não é o do vício e muito menos o da virtude. Não existem caminhos errados e provavelmente quando tivéssemos que tomar alguma decisão.
Se parássemos de nos preocupar em querer acertar – não segundo o que nós realmente queremos fazer, mais sobre o que a sociedade nos cobra e espera que nós façamos – e nos preocupássemos apenas em seguir a nossa ‘’ Verdadeira Consciência’’, ou o nosso Mestre Interno, acertaríamos bem mais do que erraríamos, e mesmo que errássemos, pelo menos uma vez na vida estaríamos seguindo a voz de nossa consciência, sem dar ouvidos ao que a sociedade espera que realizemos.
E isso tem um real valor, pois é justo que se num dos pratos da balança colocarmos dois quilos, no outro teremos que colocar o mesmo peso, uma vez que se isto não acontecer estaremos gerando um desequilíbrio, que detonará a ação da espada sobre as nossas cabeças. Esta situação traduzida para a nossa vida seria a tão conhecida Lei de Causa e Efeito, da qual nenhum ser humano pode escapar.
Às vezes por mais duros e profundos que sejam os golpes e cortes que esta espada produz em nós quando erramos, de maneira alguma recebemos um golpe mais forte do que possamos suportar e, apenas aquilo que merecemos é direcionado contra nós, para que através das adversidades aprendamos a crescer em direção à luz e a valorizar os momentos em nossa vida, onde tudo caminha bem.
Esta é chamada Lei do Karma e encaixa-se muito bem na carta de número 15 “O Diabo”. O espírito é eterno, nossa vida é somente um capítulo de uma vasta jornada, e o Principio de Causa e Efeito que é atemporal nos acompanha por toda existência.
A carta O Diabo prenuncia a realização material, ascensão e até mesmo uma obsessão por poder e status. O nome Diabo tem como origem na palavra grega “diablos”, que apenas significa adversário. O bode montês representa a ascensão do homem além dos seus limites físicos e psíquico, ou seja, o homem é o seu próprio desafio.
Deus Chifrudo, Capiroto, Demônio, Baphomet… muitos são seus nomes, pois muitas eram a divindades pagãs do passado, através das quais a sua força era reconhecida e reverenciada. De todas estas divindades talvez Pã, o alegre Sátiro dos contos gregos, fosse uma das mais graciosas e fortes representações deste deus que até hoje inspira os seus seguidores a viver a vida sem a noção de mal ou pecado, celebrando-a com alegria e prazer a cada minuto vivido, pois o pecado só existe na mente de quem pecou por pensamento antes de pecar pela realização da uma má a lei de Causa e Efeito, seja lá em qual ou em quais deuses acreditemos.
A cabeça de Baphomet é formada por três animais, sendo eles o cão ou chacal, o touro e o bode. Se analisarmos os animais separadamente, veremos que o cão é uma alusão ao deus da Justiça egípcio de nome Anúbis ou Hermanubis e, de novo olha quem aparece, Hermes o chamado “Mercúrio dos Sábios”.
Tendo este animal na figura, relação com os elementos ar e água. Já o touro representa o elemento terra, e em linguagem alquímica é chamado de ‘o sal dos filósofos’. Finalmente o bode é associado ao elemento fogo e também por algumas tradições é tido como um símbolo de geração.
A titulo de curiosidade, antigamente na Judéia havia uma cerimônia onde eram consagrados dois bodes, sendo um puro e outro impuro. Segundo a tradição o puro, era sacrificado pela expiação dos pecados, enquanto o impuro era libertado e solto no deserto. A nível simbólico é interessante esta cerimônia, pois poderíamos até encontrar no seu simbolismo a seguinte lição:
‘O bode imolado, assumia a própria personificação dos pecados da humanidade, sendo por isso puro, para servir como um recipientário. Já o bode impuro solto no deserto, teoricamente estaria condenado á morte, mas se voltasse de lá por si mesmo conseguindo sobreviver, poderia representar uma espécie de purificação, depois das árduas experiências pelas quais teria passado no deserto, tal qual nosso Senhor Jesus Cristo, que por algumas tradições era também representado pelo símbolo do bode’.
O pentagrama (estrela de cinco pontas) sobre a testa de Baphomet, apresenta uma única ponta voltada para cima e apenas esta posição já é suficiente para credenciá-lo como um símbolo de magia branca, ligado a elevados ideais. Este pentagrama, dentro das tradições Iniciáticas, recebe o nome de ‘estrela Flamejante’, representando o domínio do homem sobre os quatro elementos, para que possa aflorar o quinto.
O Caduceu de Mercúrio está situado na região sexual desta verdadeira Esfinge Iniciática, é uma representação da vida eterna. Também devemos lembrar que as duas serpentes entrelaçadas, que sobem pelo bastão em direção á esfera alada, representam a subida da Kundalini, ativando todos os chakras.
O Caduceu remete-nos a profundas meditações sobre o Tantra Yoga. Através de uma sexualidade sagrada, que não vise apenas satisfazer os desejos instintivos de reprodução e prazer dos seres humanos, permite-nos atingir a própria Divindade, através do Mágico ato de amar. Esse símbolo não fica contido somente na energia sexual, mas nos ensina o não desperdício de energia, a não perdermos tempo, recursos e principalmente a nossa energia vital com coisas fúteis e vãs.
A carta “O Diabo” refere-se ao nosso adversário interior, os nossos medos e ideias preconcebidas que acabam por condicionar as nossas ações. Nosso diabo interior provoca a falta de visão, falta de perspicácia e fantasias que trazem parte dos nossos problemas. Se sabemos lidar com o nosso adversário interno, temos poder para realizarmos o que queremos. Daí somos tentados a fazer boas ou más escolhas, porque esse poder será “lançado” no Universo como uma rede ao mar.
Das nossas más escolhas vem a fama do Diabo, porque colocamos a culpa em algo externo, como se a decisão e a consequência não estivessem intrinsecamente unidas.
O plantio da semente é opcional, mas a colheita é obrigatória.
Nenhuma criação, quer física, quer mental ou espiritual, é possível sem este Princípio. Todas as coisas “machos” têm também o Elemento feminino; todas as coisas “fêmeas” têm o Elemento masculino.
O Arcano XX que é “O Universo” é um exemplo desse princípio, mas dos Arcanos 1 ao 4 também está presente a diferenciação de gênero masculino e feminino nas cartas O Mago e A Sacerdotisa, A Imperatriz e I Imperador.
Este Atu é um dos mais belos do Tarot de Thoth, pois também demarca o resgate das raízes espirituais do mundo ocidental. Temos a Criança Coroada, livre e inocente, pisando sobre o passado e sobre as aberrações cometidas sob os direitos mais básicos do ser humano: o direito a ser Feliz.
A Criança é filha da união dos opostos masculino e feminino, Ísis e Osíris e não nos mostra mais o nascimento, vida e morte, mas a continuidade da existência: a Eternidade.
Esta grande verdade está muito bem expressa pelos taoistas no símbolo do Yin (Feminino) e Yang (Masculino).
Na Psicologia, estudo da nossa mente, temos novamente um grande contribuição de Jung (que foi estudioso da filosofia hermética). Anima e Animus na Psicologia Analítica de Jung, são aspectos inconscientes de um indivíduo, opostos à persona, ou aspecto consciente da personalidade.
O inconsciente do homem encontra expressão como uma personalidade interior feminina: a Anima; no inconsciente da mulher, esse aspecto é expresso como uma personalidade interna masculina: o Animus.
É interessante notar que os Hermetistas dizem que a compreensão desta Lei poderá esclarecer muitos assuntos que deixaram perplexas as mentes dos homens. Jung retratou isso muito bem com relação à nossa psique quando disse:
“Se o confronto com a sombra é obra do aprendiz, o confronto com a anima é obra-prima. A relação com a anima é outro teste de coragem, uma prova de fogo para as forças espirituais e morais do homem. Jamais devemos esquecer que, em se tratando da anima, estamos lidando com realidades psíquicas, as quais até então nunca foram apropriadas pelo homem, uma vez que se mantinham foram de seu âmbito psíquico, sob a forma de projeções. C.G. Jung
Considerações Finais
Jogar Tarot é como encontrar um Oráculo. Mais do que prever o futuro, o Tarot realiza o Princípio Hermético de Correspondência, a saber: “tudo o que está em cima é como o que está embaixo“.
O Princípio Hermético da Correspondência é o mais profícuo de todos, pois possui ressonância com a teoria do caos. Na mecânica quântica é o colapso de onda e na filosofia o conceito leibniziano de mônada. Tudo origina-se no Hermetismo.
Assim, por exemplo, os Arcanos X e XIII (Vida e Morte) significam em conjunto uma certa unidade, uma condição complementar que não pode ser concebida pelo processo mental e imperfeito. E o Hermetismo abraça essas ideias profundamente, tal qual o Tarot.
Pensamos Morte e Vida como dois opostos antagônicos um ao outro, mas, se pensarmos mais longe, veremos que casa um depende do outro para existir e nenhum dos dois pode existir separadamente.
Podemos entender o Tarot e o Hermetismo, de uma forma simplista, da seguinte maneira: o primeiro é a linguagem abstrata e o segundo é a linguagem teórica.
Nesse post eu abordei de forma resumida o hermetismo nos Arcanos Maiores. Mas é necessário uma vida dedicada aos estudos desses mistérios para melhor e mais aprofundada compreensão.
Abaixo, compartilho uma série de vídeos que considero excelente, feita pela Nova Acrópole de Brasília.
São 15 palestras da filósofa Lúcia Helena Galvão.
Também indico o vídeo e a leitura do “O Caibalion” para começar a compreender os segredos Herméticos e o Tarot!
Bons estudos Guerreirx!
O Grande Agente Mágico ou substância una que é céu e terra, conforme seus graus de polarização, sutil ou fixa, Hermes Trimegisto chama de grande Telesma.
“Quando produz o esplendor, ela denomina-se luz.
É essa substância que Deus cria antes de todas as coisas, quando diz: Que seja a luz.
Ela é ao mesmo tempo substância e movimento. É um fluido e uma vibração perpétua.
A força que a põe em movimento e que lhe é inerente denomina-se magnetismo.
No infinito, essa substância única é o éter ou a luz etérea.
Nos astros que magnetiza, torna-se luz astral.
Nos seres organizados, luz ou fluido magnético.
No homem, forma o corpo astral ou o mediador plástico.
A vontade dos seres inteligentes age diretamente sobre essa luz e, por meio dela, sobre toda a natureza submetida às modificações da inteligência.
Essa luz é o espelho comum de todos os pensamentos e de todas as formas; guarda as imagens de tudo o que foi, os reflexos dos mundos passados e, por analogia, os esboços do mundos futuros”.
Fonte: